Redescobertos nos fundos dos armários, onde tinham ido parar com o aparecimento dos CDs, ou descobertos pelos mais jovens, que de mangas arregaçadas se propoem tirar-lhes todas a informação que possuem, e é tanta, os discos de vinyl acordam duma longa noite de pesadelo, de cabeça erguida, mostrando-nos logo as suas origens : (decca, columbia, odeon, rca victor, parlopnon, cbs, thorens, capitol, his master's voice, brunswick, vogue), um verdadeiro desfile de brasões,                                                            garantia de qualidade, que lhes dá pleno direito a ocupar  um lugar cimeiro, em todas as colecções, serão até já reis em absoluto; e com as suas capas coloridas, algumas belissimas - uma autêntica obra de arte - exercem enorme fascinio, e uma tentação irresistivel de os ter a nosso lado.

      Infelizmente para alguns ainda é um mundo um pouco misterioso que aliado a uma falta de experiência, leva a resultados não muito satisfatórios, com uma consequente diminuição de interesse, e por fim ao abandono. Para estes,  prontos a dar os primeiros passos é dedicada esta página, assegurando desde já que com um minimo de esforço e conhecimento, o resultado pode até ser brilhante; os discos esperam apenas de ser colocados num prato real, perfeitamente controlado, e se na sua longa vida não foram muito maltratados, certamente continuarão a girar por muitos anos e nos darão belos e inesqueciveis momentos de prazer; e é disto que vamos tratar:

      Um gira-discos pode então ser dividido em três partes principais: prato, braço e cabeça, sendo que o grau de importância não é igual entre essas, mas obedece a uma certa ordem, precisamente aquela atrás descrita, e que deverá ser tida em consideração daqui para a frente.

      Primeira decisão: novo ou usado? Usado, em minha opinião, anda benissimo, o vintage de uns e outros enquadra-se perfeitamente e são mais económicos, compram-se por poucas dezenas de euros, a oferta é grande, com a condição de sermos bastante exigentes na sua escolha, pois certamente a maior parte não reunirá os requisitos pretendidos e teremos de lhes passar ao lado. Interessa-nos então um prato belo, robusto e pesante, se em caixa de madeira melhor, de uma marca com provas dadas; emt, garrard,  lenco, technics, thorens, dual, etc...,(um verdadeiro luxo!!!)com três velocidades, 33, 45 e 78, devendo esta ultima poder ser variada entre 74 e 82 rpm,(os discos de 78rpm eram gravados a velocidades diversas,normalmente compreendidas entre esses valores), com tração por cinta será aconselhado, mas devo dizer que alguns por tracção directa são extremamente silenciosos, (o ruido que o acoplamento  do motor ao prato introduz é realmente muito baixo e nos melhores o rotor e o prato são construidos numa só peça pelo que o prato torna-se parte integrante do motor, evitando essa ligação que iria introduzir vibrações, e o binário de arranque dum motor em corrente continua é enorme, o que é uma vantagem ), como marantz ou technics, dois maestros da electónica, e os thorens com duplo acoplamento polia/cinta, com variação de velocidade por campo magnetico - que engenho!!! - são de comprar a olhos fechados.

     O principal cuidado é verificar se o disco gira perfeitamente no seu eixo, deve descrever absolutamente uma unica circunferência perfeita, apresentado-se a nossos olhos como se estivesse parado, sem deslocações laterais; o mesmo para o braço que se for fixo, qualquer tipo de oscilação indevida o elimina automaticamente, (lembremos que a unica oscilação que nos interessa é a provocada pela normal leitura da agulha no disco, que será transmitida à cabeça), pois funciona como fonte de ruido, que irá ser fortemente amplificado; se for substituivel, o problema é menor porque em qualquer altura o podemos trocar, fazendo inclusivamente upgrade; a testina deverá ser do tipo moving magnet, com sinal de saida dez vezes superior às moving coils, e se ligeiramente inferior na resposta em frequencia, o seu sinal de saida é muito mais facil de amplificar, (precisará de o ser por um factor amplficativo de 100, enquanto com as mcs  o fator será de 1000, para atingir nivel de sinal suficiente a dar entrada no amplificador, o que para igual nivel de ruido na entrada, nestas ultimas será dez vezes mais elevado na saida), formato universal/standard mount, para facil substituição  provavelmente por uma de qualidade superior,  mas tendo muita atenção  com s sua montagem  pois requer cuidados especiais de alinhamentos, sendo este processo, digamos um pouco critico, chegamos verdadeiramente ao coração do sistema, e o nosso intervento poderá fazer a diferença, entre um bom ou mau resultado final:

       Regule a parte de trás do braço até ficar em posição horizontal; ajuste o peso da cabeça para aquele indicado pelo fabricante, normalmente entre 3 e 5g e em caso de duvidas, lembre-se que prejudica mais um disco um braço ligeiramente leve, que o contrario; regule o anti-skating para o mesmo valor; no lugar do disco coloque um pequeno espelho e pouse delicadamente a agulha em cima, devendo a cabeça real e a virtual ficar perfeitamente alinhadas, caso contrário proceda ao alinhamento; num papel milimetrico desenhe um rectangulo aproximadamente de 18cm por 4cm; trace uma linha central no sentido do comprimento; nessa linha trace 3 pontos,A,B e C, às distancias respectivamente de 2cm, 8,6cm e 14,4cm; no ponto A faça um pequeno furo e enfie-o no eixo do prato em cima do disco; desloque manualmente o braço e o papel e coloque a agulha sobre o ponto C,devendo a cabeça apresentar-se rigorosamente pararela às linhas verticais das quadriculas, caso isto não aconteça ajuste a posição da cabeça e faça a mesma operação em relação ao ponto B; lembre-se tambem que não pode usar as agulhas dos discos de 33/45 rpm nos de 78, não servem, são completamente diferentes e os destroem.

       A  ligação à parte amplificadora, passa por um pre-amplificador, e aqui deverá optar por activo ou passivo, qualquer deles com as suas vantagens e inconvenientes, sempre com equalizador riaa incorporado, sendo esta ultima parte absolutamente indispensável, já que por motivos tecnicos e práticos, durante a gravação da incisão as baixas frequências são propositadamente comprimidas e as altas acentuadas, pelo que na altura da leitura o inverso terá de ser feito, permitindo desta forma ao som de voltar às caracteristicas originais, e aqui não pode haver compromissos: se for activo,ou o amplificador tem a entrada phono, e a marca do aparelho dá-nos total garantia de qualidade, ou terá de se comprar em separado, e tambem aqui, a qualidade é verdadeiramente importante: recebendo um sinal de entrada de cerca de 5 milivolts devendo amplificar-lo  para 500 - estamos a lidar com sinais extremamente baixos, - a introduçao de ruido torna-se inevitável -, e o pior é que irá ser grandemente amplificado junto ao sinal e só um bom preamp é capaz de o rejeitar e manter o ruido inerente ao seu funcionamento em niveis extremamente baixos, o que não está ao alcance dos mais fracos;  por sua vez a impedância de entrada deve ser igual à da saida do gira discos, de contrário há grandes perdas de sinal, pelo que a nós só nos resta, eleger um de qualidade superior, e aparelhos de 30/40 euros não serão tidos em consideração; se tem um bom amplificador com umas boas colunas, (deverão ter altas sensibilidades) poderá optar por um preamp passivo, com uma alta impedância de entrada, 10komhs cerca, para não sobrecarregar a fonte, e uma baixa impedância de saida, proxima do zero ,(lembre-se que esta impedância junto à capacidade intrinssica dos cabos de ligação fazem fazem um filtro passa baixo com a sua frequência de corte que não deve estar na zona de frequências audio, sob pena de atnuar as altas frequências), neste caso não terá ganho de sinal, apenas optimização das impedâncias, mas a boa qualidade amp/colunas, superam esse baixo sinal de entrada, e reproduzem o som com mais fidelidade, precisa apenas de posicionar o controlador de volume numa posição mais elevada, mas de qualquer modo nunca irá ter distorção na saida,e com muito mais garantia de que o sinal de saida seja idêntico ao de entrada, sem nenhum tipo de coloração; nos discos de 78 rpm surge ainda um problema: a equalização riaa é diferente dos outros discos, e pior ainda, varia de marca para marca, pelo que a devenos poder controlar, atraves de diversos ajustes nas frequências; os cabos de ligação do gira-discos ao preamp devem ser de qualidade e curtos, reduzindo o efeito capacitivo, que modifica a impedaância de saida, desequilibrando-a com a entrada do preamplificador;

     Se o prato estiver em caixa de madeira, e sendo a parte mais importante do sistema, não descarte a hipótese de construir outra, atenuando melhor as vibrações ou ressonâncias;  em caso de zumbido, as massas do gira discos e do preamp serão colocadas ao mesmo potencial, com um fio de ligação, eliminando o hum; no caso do Rumble, (baixas frequencias provocadas por vibrações em sistemas de transmissão e rolamentos que chegam ao prato e daqui às colunas - lembra-se da necessidade imperiosa de na altura da compra do gira-discos verificar qualquer deslocamento lateral, normalmente provocada por desgaste no eixo central ou rolamento, ou baixa qualidade dos materiais?), pode ser atenuado oleando com óleo de alta qualidade os rolamentos. Uma base bem sólida debaixo do gira-discos e afastar um pouco mais as colunas do prato, só pode trazer beneficios...Uma pequena atenção ainda se pode prestar à sempre discutida e quase sempre ignorada  vantagem de melhorar ou não a qualidade do cabo de alimentação e respectiva ficha; se o gira-disco tem um potente motor e se funciona tambem a 78rpm, creio que só poderá trazer vantagens, (  na  rotação do disco  o motor não tem um consumo de corrente  constante, varia com o atrito existente em cada ponto, que não é sempre egual devido à tolerância dos materiais ), fornecendo instantaneamente a corrente pedida, evitando como que aumentar o tão danoso e sempre presente wow and flutter  ; já no caso do amplificador, este melhoramento poderá ser mais que necessário e evidente... pois as colunas fazem variar constantemente e com extrema rapidez, a corrente fornecida...

     O cuidado a ter com os discos, referem-se habitualmente a três situações distintas:

      A) riscos, a pior situação, para a qual não existre solução, e apenas se podem evitar, controlando perfeitamente o descer e levantar da agulha, procurando fazê-lo nos espaços sem gravação, e pior ainda evitar absolutamente qualquer movimento transversal inadequado, normalmente provocado por uma deficiente regulação do peso da agulha, do anti-skating ou qualquer vibração exterior que atinja o gira-discos.

      B) sugidade que surge com o tempo, mas que uma boa lavagem em água morna com sabão neutro e um pano macio, podem perfeitamente resolver.

      C) ondulações (warping), provocada habitualmente por deficiente armazenamento ou variações de temperatura; com os meus shelacs, e tenho algumas centenas, coloco um em cima de uma placa de vidro dentro do forno de casa, o mais afastado possivel da fonte de calor, no minimo de temperatura (em qualquer altura a mão deverá poder entrar dentro sem se queimar) por quinze a vinte minutos, retiro-o e coloco-o numa pedra mármore com a placa de vidro em cima, e sobre esta qualquer coisa bem pesante. Normalmente faço-o ao fim do dia, por razões práticas aproveitando ainda do abaixamento de temperatura da noite, evitando ainda ser tentado a ver o resultado antes do tempo devido, e de manhã está plano como aquele de Euclides!!! Com os LP, o procedimento é identico, mas como são fabricados em diversas gramagens, obriga a cuidados adicionais, no que se refere a tempo/temperatura. Com o meu Hotel California,muito ondulado, (foto 1),                                                                  só à terceira vez voltou ás caracteristicas originais, (foto 4) mas foi com enorme prazer voltar a  ouvir as guitarras de Felder e Walsh excelentes como sempre, um verdadeiro hino da musica rock. Talvez se deva experimentar primeiro com um disco sem grande valor...

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      In bocca al lupo!!!

      ...e buon ascolto!!!

                                                                                                           Saluti, dos santos